O que você tem feito com o perdão de Deus?

Uma rápida olhada em uma das parábolas mais interessantes contadas por Jesus.

Há alguns dias estou fazendo a leitura do evangelho de Mateus e sempre acho muito interessante a forma utilizada por Jesus para levar o seu conhecimento aos seus ouvintes, as ilustrações utilizadas por Ele que, segundo o próprio, facilitaria o entendimento de alguns mas não seriam compreendidas por todos, pois outros veriam e ouviriam mas, ainda assim, não entenderiam o que estava sendo dito (Lc 8:10).

E uma das parábolas que mais me chama a atenção é a "parábola do credor incompassivo" (intitulada assim pelo tradutor), narrada no final do capítulo 18 do evangelho escrito por Mateus. Onde Jesus conta a história de um rei que decidiu acertar contas com seus servos e entre estes um se apresentou a ele lhe devendo dez mil talentos (vv. 23-24).

Muitas vezes não entendemos essas unidades de medidas da bíblia, mas vou explicar as duas que serão utilizadas aqui no texto: a mais básica é a que aparecerá mais pra frente, o denário, uma moeda romana que equivale ao pagamento por um dia de trabalho e é equivalente à moeda grega chamada dracma que também aparece em outras parábolas. A outra unidade que aparece aqui é o talento, que equivale a 6000 denários, seria o preço de aproximadamente 16 anos de trabalho. Tendo isso em mente, percebemos o quão alta seria uma dívida de "dez mil talentos"!

Prosseguindo, Jesus conta que esse servo, após ser condenado pelo rei a entregar "tudo o que possuía" por não ter com o que pagar, se lança aos pés do seu senhor e implora por paciência, dizendo que pagará por tudo o que devia e assim consegue comover o rei, que o manda embora e perdoa a sua dívida (vv. 25-27).

Esse mesmo servo, ao sair da presença do rei, encontra um colega seu que lhe deve 100 denários, agarra e sufoca-o, ordenando que ele pagasse o que lhe devia, o devedor se joga a seus pés e pede que ele tenha paciência que lhe pagaria a dívida, mas o primeiro não deu ouvidos, pelo contrário, levou o seu devedor para a prisão para que ficasse ali até pagar a sua dívida (vv. 28:30). Quando essa informação chegou ao rei, ele mandou chamar o primeiro servo e lhe questiona de uma forma bastante interessante:

[...] Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. 
Não devias tu igualmente ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? 

Mateus 28:32-33

E a narrativa do capítulo se encerra com o rei indignado, entregando o servo aos torturadores até que toda a dívida fosse paga (v. 34) e com o comentário de Jesus concluindo a parábola:

Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.

Mateus 28:35

A parábola deixa tudo muito na cara já, não tem nem muito o que comentarmos... Mas tem um pequeno detalhe que me chama bastante a atenção e que, por vezes, passa despercebido: o tamanho das dívidas em questão.

O primeiro servo tem uma dívida gigantesca com o rei, eu gosto de número, fui fazer os cálculos usando as proporções que já disse há pouco e vi que a dívida dele seria equivalente ao pagamento pelo trabalho diário por 164 anos! Não sei se seria possível adquirir uma dívida tão alta assim e muito menos se seria possível pagá-la, creio que Jesus usou um valor tão alto assim, justamente, para nos mostrar o quão impossível seria o pagamento dessa dívida.

Já a dívida do segundo servo para o primeiro é insignificante se comparado a esta primeira. 100 denários são 100 dias de trabalho, não é pouca coisa, mas 100 dias comparados a 164 anos, temos que admitir que é praticamente nada.

E é justamente essa diferença no tamanho das dívidas que me faz achar essa parábola tão interessante! Essa parábola ilustra com perfeição a relação entre nós, Deus e nossos irmãos. Nós tínhamos uma dívida escandalosa com o nosso Deus, impossível de pagarmos, mas ao chegarmos a Ele implorando compaixão e exercendo o arrependimento, alcançamos a Sua graça, um favor imerecido e somos totalmente perdoados de toda essa dívida! Já não devemos mais nada a Ele! Aleluia!

Mas logo após recebermos esse perdão e sermos cheios dessa alegria que vem da certeza do perdão dEle, encontramos aquele nosso irmão que nos magoou, que nos fez mal... e o que fazemos com ele? Será que paramos para pensar nisso!?

Quando vemos alguém falando sobre isso de perdoar o irmão, sempre pensamos em algo não muito complexo, um vacilo, uma pequena dívida, um favor que não retribuiu... Mas talvez esse irmão esteja nos devendo 100 denários, o equivalente a 3 meses de trabalho, realmente não é pouca coisa! Mas será que já paramos para pensar sobre a mensagem dessa parábola!? Já paramos para pensar que a dívida que tínhamos não seria paga nem se passássemos o resto da nossa vida trabalhando!? E Deus nos faz a mesma pergunta que o rei fez ao seu servo:

Não devias tu igualmente ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?

Mateus 28:33

E observação final que tenho a fazer sobre esse texto é sobre o início dele, Jesus começa a sua fala dizendo que "o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei" (v. 23). Por inúmeras vezes nos vemos declarando que não pertencemos a esse mundo, que fazemos parte de um reino maior, que estamos aguardando pelo dia que iremos morar com Deus e tudo mais. Graças a Deus que isso é verdade em nossas vidas! Mas nós não perdemos de ter em vista que esse Reino que Deus tem começado a estabelecer por meio de nós não é composto apenas por um rei, mas também tem os seus súditos, os seus servos! E nós devemos saber bem quem são esses servos, não é mesmo? Sim, somos nós! E é exatamente como Jesus narrou: esse Reino tem o Rei (que é Deus), tem os servos que o deviam e foram perdoados (que somos nós) e tem os conservos (ou colegas) que nos devem (que são os nossos irmãos) e que, por mais que nos devam uma grande quantia, essa quantia jamais poderá ser comparada à quantia que devíamos e nos foi perdoada!

E, indignado, o seu Senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. 
Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas. 

Mateus 28:34-35

 

Por Arlan Dantas

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