Se você é cristão, certamente já passou por algum momento em que, após pecar, foi tomado por um sentimento de pesar imenso, por uma tristeza por pensar no pecado que cometeu e em quão grande foi o seu "vacilo" com seu Deus.
Primeiro tenho que avisar que isso não é uma exclusividade sua! É muito normal que isso venha a acontecer conosco (é bom que isso aconteça, inclusive). Quando reconhecemos Jesus como o nosso Cristo, Senhor e Salvador, Ele mesmo passa a habitar em nós, passamos a ser habitação do Espírito Santo e é isso que nos leva a essa tristeza. Deus, por meio do Seu Espírito em nós, nos convence do nosso pecado, de como aquilo foi prejudicial para a nossa relação com Ele. Sendo assim, essa tristeza, claramente, não é algo "negativo", pelo contrário! Ela nos mostra que Ele está habitando em nós!
O que devemos ter cautela é na forma como vamos lidar com essa tristeza, não podemos deixar que isso se torne um "trauma" e pensar que aquele pecado foi grande demais a ponto de não podermos mais se aproximar do nosso Deus... Jesus narrou uma história para os seus seguidores que hoje é muito conhecida no meio cristão, mas que muitas vezes a gente não se dá conta do quão significativa é aquela narrativa para as nossas vidas hoje: a parábola do filho pródigo, narrada em Lucas 15:11-32 (sugiro a leitura da passagem antes de continuar o texto, ainda que você conheça muito bem a história).
Esta parábola conta a história de um pai e seus dois filhos, dos quais um chegou ao pai e pediu a sua parte da herança. Esse trecho inicial, para muitas pessoas, aparenta não ter muito significado na grandiosidade da história, mas, na verdade, ele é uma das partes que deixa essa narrativa ainda mais impactante: se pensarmos um pouco, veremos que a herança é, na verdade, a divisão dos bens que alguém juntou ao longo de sua vida entre os seus herdeiros após a sua morte, ou seja, a pessoa passou a sua vida inteira reunindo bens, mas após a sua morte não poderá mais usufruir deles, por isso eles são divididos e entregues ao seus herdeiros. O impacto da história está em que o filho pediu a herança enquanto o pai ainda estava vivo! Ele queria que o pai entregasse a ele os bens que ainda estavam sendo reunidos e usados, não se importando de que forma isso afetaria na vida do seu genitor. Mas, ainda assim, o pai repartiu os seus bens entre seus filhos.
Pouco tempo depois da partilha dos bens, o filho mais novo juntou o que tinha e saiu de casa, ele viajou para "uma região distante" e ali gastou tudo o que tinha "dissolutamente" (v. 13), ou seja, esbanjando as riquezas que tinha. Após um tempo vivendo irresponsavelmente e em uma terra atingida por uma grande fome, este filho veio a passar necessidades, chegando a ponto de trabalhar cuidando de porcos (que até hoje são considerados animais "imundos" para a cultura na qual Jesus viveu e narrou essa parábola, os judeus) e desejar o alimento que era dado a esses animais (vv. 14-16).
Caindo em si, ele pensou: “Quantos trabalhadores do meu pai têm comida de sobra, e eu estou aqui morrendo de fome! Vou voltar para a casa do meu pai e dizer: ‘Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho. Me aceite como um dos seus trabalhadores.’”
Lucas 15:17-19
Você consegue perceber a vergonha que esse jovem está passando nesse momento? Ele bagunçou com a vida do seu pai, pegou a parte dos bens dele que lhe pertencia e gastou-os de uma forma irresponsável, agora ele percebe o quão precipitado foi isso que ele fez e decide voltar para a casa do seu pai. Talvez a gente hoje considere esse discurso que o filho planejou "muito dramático", mas na verdade não é! Ele, realmente tinha cometido um erro gigantesco diante do seu pai, a ponto de ficar feliz se for aceito como um simples trabalhador dele.
E é justamente aqui onde a gente se identifica com esses personagens: nós, enquanto filhos de Deus, recebemos grandes bênçãos dEle, somos libertos da servidão ao pecado, e ao invés de estarmos próximo do nosso Deus e buscarmos orientações com Ele de como administrar melhor tudo isso que Ele nos entregou, fazemos o contrário e vamos para longe dEle e gastamos tudo o que temos do jeito que "dá em nossa cabeça"! E o que eu narrei no início do texto, a tristeza que toma o nosso coração é, justamente, o que o filhos mais novo da parábola está passando nesse ponto da história: lembramos como o nosso Pai é bom, que até com quem não é filho dEle e está trabalhando para administrar os Seus bens recebem dEle um sustento muito melhor do que nós temos em meio ao pecado.
Mas a história não acaba com o filho pensando em voltar pra casa! E é isso que quero chamar a tua atenção. Após o arrependimento, o filho se decide em voltar para a casa do seu pai e Jesus fala que o pai, quando o filho ainda estava longe de chegar em casa, se levantou, CORREU, o beijou e abraçou! Eu não escrevi "correu" maiúsculo por acaso. Certamente, pela situação que Jesus narrou de como o filho estava vivendo, ele não deveria estar muito "arrumado" ou "cheiroso" enquanto voltava para casa, mas isso não foi impedimento para a demonstração de carinho do seu pai, mesmo vendo-o naquela situação, ele CORREU para abraçar e beijá-lo!
Lembra da fala que o filho estava "ensaiando" para falar com o pai? Lembra que ele queria dizer que "já não era digno de ser chamado filho, me deixa ser teu servo" e tudo mais? Pois bem, ele disse! Na verdade ele só falou uma parte do que havia ensaiado: “Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho!” O que deve mais nos chamar atenção são duas coisas: (1) ele não terminou de falar tudo o que havia ensaiado e (2) o pai não deu atenção ao que ele falou.
Mas o pai ordenou aos empregados: “Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Ponham um anel no dedo dele e sandálias nos seus pés. Também tragam e matem o bezerro gordo. Vamos começar a festejar porque este é meu filho estava morto e viveu de novo; estava perdido e foi achado.” E começaram a festa.
Lucas 15:22-24
E exatamente desse jeito é Deus conosco: mesmo quando achamos que não somos mais dignos de ser chamado filhos dEle, se nos arrependemos e voltamos pra perto, Ele corre em nossa direção e faz uma festa pois nós somos filhos que estávamos distantes dEle, era como se estivéssemos mortos e voltamos a viver, voltamos a ter a vida dEle dentro de nós!
Essa parábola contada por Jesus nos explica muito sobre o problema que narrei no início do texto, mesmo quando a nossa falha é gigantesca diante do nosso Deus, estamos distantes dEle e nos damos conta disso, tudo o que devemos fazer é reconhecer isso e voltarmos para perto dEle, mostrando que sabemos o quanto erramos! Mas acima de tudo isso, devemos ter a certeza de que, ao nos ver arrependido, Ele vai correr para nos abraçar, beijar, fazer uma festa e chamar de Filho que, ainda que estivesse morto, viveu de novo!