A Bíblia: uma pedra de tropeço

Tradução de "The Bible: A Stumbling Block", do livro Sermonettes - Volume I.

A Escritura anteviu que Deus iria justificar os Gentios pela fé, e anunciou o evangelho antecipadamente a Abraão: "Todas as nações serão abençoadas por meio de você"

Gálatas 3:8

Aqui está o caso mais curioso de personificação. No relato de Gênesis, foi Deus quem falou a Abraão, mas nesse verso, é dito que a Escritura – isso é, a Bíblia, o livro em si – falou a Abraão. A palavra "Escritura" refere-se a algo escrito, mas mesmo se o que Deus disse fosse passado imediatamente para a forma escrita, não estava na forma escrita quando Ele falou. Mesmo assim, aqui é dito que a Escritura fez a promessa a Abraão.

Duas características divinas são atribuídas à Escritura. Primeiro, Paulo escreve que a Escritura "anteviu" algo. E note que o apóstolo faz uma distinção entre a Escritura e Deus – a Bíblia anteviu que Deus faria algo. Mas não foi Deus quem anteviu que ele mesmo faria algo? A personificação é total. Ele refere-se à bíblia como algo que é vivo, pessoal e divino. Segundo, Paulo escreve que a Escritura anunciou, ou pregou, o evangelho para Abraão. A promessa veio do próprio Deus. Essa não foi uma afirmação relatada por um servo ou mensageiro, mas o pronunciamento inicial da promessa. Foi Deus quem fez isso, e apenas Ele poderia fazer isso. Mas aqui é dito que a Bíblia fez isso.

Quatro deduções são tiradas disso. Primeiro, um dos princípios essenciais da fé cristã é que, para muitas intenções e propósitos, Deus e a Escritura são intercambiáveis. Por exemplo, Deus e a Escritura podem ser considerados idênticos em veracidade e em autoridade. Segundo, em muitos contextos, é inteiramente apropriado se referir à Escritura como se nos referíssemos a Deus. De fato, isso deveria ser esperado, até uma franca exigência, por todos os cristãos. Deveria ser natural falar, "A Bíblia te ordena...", "A Bíblia proíbe você...", ou "A Bíblia prediz que...". Precisamos suspeitar de uma pessoa se, por uma análise das suas declarações, nós encontrarmos uma deliberada e consistente distinção entre Deus e a Escritura. Terceiro, uma formulação ou aplicação da doutrina da Escritura que não incide na acusação de bibliolatria por algumas pessoas, provavelmente falha na consideração da própria estimativa da Bíblia sobre si mesma, e é, portanto, indigna de afirmação. Quarto, se a Escritura pode possuir a presciência divina e fazer pronunciamentos divinos, então ela pode ser caluniada e blasfemada. Qualquer afirmação feita sobre a Bíblia que falha ao identificá-la com a grande verdade, conhecimento e autoridade de Deus, deve ser considerada como calúnia e blasfêmia. O ofensor deve ser tratado adequadamente – isso é, ele deve ser removido de todos os trabalhos na igreja, interrogado ante a igreja e sem retração e arrependimento, expulso das instalações e relações da igreja.

Nós entendemos que a mensagem da Bíblia ofende não-Cristãos. Mas a própria forma de sua existência é também uma pedra de tropeço para eles. Se, de alguma forma, eles fossem acreditar em Deus, não esperariam que ele falasse por meio da Bíblia, isso é, por meio de um livro. Naamã disse que ele pensava que Elias viria até ele, invocaria o seu Deus, balançaria suas mãos sobre sua lepra e o curaria. É claro que Deus poderia fazer dessa forma, embora ele não deu o que Naamã esperava. Mas um servo sábio discutiu com Naamã, então ele se submeteu às instruções do profeta e foi curado. Agora não-Cristãos esperam que Deus faça uma mão aparecer e escrever uma mensagem diante deles, ou falar do céu em uma voz de trovão. Ou, eles esperam Cristo aparecer numa luz ofuscante, dizendo: "Tolo, tolo, por que me persegues? É difícil para você revoltar-se perante os aguilhões". O quê? "Eu disse que é difícil para você continuar batendo a cabeça contra a parede".

Deus, de fato, fez todas estas coisas, e ao contrário de muitos teólogos, ele ainda pode fazer isso se Ele quiser. Não há nada na Bíblia que nos garanta que ele iria sempre agir conforme a doutrina do cessacionismo. Porém, na maioria dos casos, a verdade de Jesus Cristo não alcança o homem pelo que ele considera uma forma espetacular. Em vez disso, Deus entrega-os um livro, e na realidade, fala: "Leia-o. Acredite e viva. Não acredite e queime no inferno". Isso é muito difícil, ou mesmo impossível, para não-Cristãos aceitarem. Deus designou este obstáculo para expor aqueles que estão destinados para o fogo do inferno, e excluí-los da vida eterna. Não é que a divindade da Bíblia está escondida, mas que os pecadores são cegos para ela. Como Jesus disse, se alguém se recusou a acreditar em Moisés, então ele iria se recusar a acreditar, mesmo se uma pessoa retornasse da morte para falar com ele. A recusa dos homens para ouvir o Cristo ressurreto foi o cumprimento final disto. Mas Deus desperta a inteligência dos seus escolhidos para perceberem a força e sabedoria da Bíblia, e compreender que o livro é idêntico à voz de Deus.

A Bíblia disse a Abraão que ele iria se tornar o pai de muitas nações, e que através dele todos os tipos de pessoas seriam abençoadas. A promessa nunca foi feita para ser cumprida pela carne, mas pelo poder de Deus.  Ela nunca foi feita para vir pelo caminho que Ismael veio, mas pelo caminho que Isaque veio. Todas as nações seriam abençoadas porque através de Abraão, Cristo deveria nascer, e seu evangelho se espalharia ao longo de toda a terra, convertendo multidões à verdade, salvando-as do pecado e do inferno, e assegurando-as seu lugar no céu. Elas estariam unidas por esta promessa que veio através de Abraão. Seja Judeu ou não-Judeu, homem ou mulher, rico ou pobre, elas estariam unidas – abençoadas por uma promessa – pela sua fé comum em Jesus Cristo.

Observações

Este texto é uma tradução (do texto "The Bible: A Stumbling Block" contido no livro "Sermonettes, Volume 1" do Vincent Cheung) e foi feita com a permissão do autor, mas não é uma tradução oficial nem foi revista pelo mesmo.

Referências

CHEUNG, Vincent. The Bible: A Stumbling Block. In: CHEUNG, Vincent. Semonettes, Volume 1. p. 5-6. (http://www.vincentcheung.com/books/Sermonettes, Volume 1.pdf, acesso em 22 de dezembro de 2015).

Texto de Vincent Cheung.
Traduzido por Arlan Dantas.

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