Pessoas vão para o inferno!

O que isso muda na nossa vida de evangelismo!?

Quando estamos falando sobre missões, evangelismo e coisas desse tipo, sempre ouvimos explicações de como abordar uma pessoa, como desenvolver o assunto, como alertá-la dos seus pecados, como apresentar o amor de Cristo e tudo mais... Mas é interessante que nem sempre fica explícito nesses treinamentos que não serão todos que serão convencidos nessas abordagens. Além de a bíblia e, principalmente, o próprio Cristo falarem que pessoas serão lançadas no "mar de sofrimento onde haverá choro e ranger de dentes" (como em Mt 13:42, por exemplo), nem sempre somos "alertados" quanto a isso, talvez isso aconteça por esse assunto ser uma coisa que todos já deveríamos saber. Mas será que isso realmente está em nossas mentes de forma clara? É comum que nesses mesmos treinamentos falem: "olha, vai acontecer de gente recusar receber a literatura que você vai dar, vai ter gente que vai fazer pouco caso...", mas não é bem disso que estou falando. Vamos tentar entender um pouco mais...

A todo momento ouvimos ensinamentos de que devemos dar bom testemunho, mostrarmos que temos Cristo em nossas vidas, que devemos ser luz do mundo, que devemos exalar o bom perfume de Cristo... Na maioria das vezes que ouvimos esses ensinamentos é nos falando sobre mostrar às outras pessoas como é servir a Cristo, como é ter o Espírito Santo em nossas vidas e atraí-las aos caminhos do Senhor por meio do nosso testemunho. E isso realmente é verdade, temos sim que mostrarmos Cristo por meio das nossas atitudes. Mas tem uma coisa que pode diferir um pouco dos ensinamentos que recebemos... Vamos ver a passagem na qual Paulo fala aos Coríntios sobre essa ideia de "exalar o perfume de Cristo".

Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo?

2 Coríntios 2:15-16

No contexto deste versículo, Paulo está falando com os irmãos de Corinto justamente sobre as experiências com a pregação: "E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento" (v.14), Deus, por meio de nós, exala a "fragrância do seu conhecimento", que é o evangelho de Cristo. Logo depois, ele vai falar sobre o perfume de Cristo, que é aquela ideia do testemunho e da pregação, de mostrarmos Cristo a quem está ao nosso redor. Além disso, Paulo nos chama atenção pra mais uma coisa: "nos que se salvam e nos que se perdem", ou seja, nós não testemunhamos nem "exalamos o perfume de Cristo" apenas para quem é salvo, nem apenas para quem se perde, nós temos que testemunhar/pregar a ambos os tipos de pessoas, principalmente por não sabermos quem é salvo nem quem se perde, devemos pregar o evangelho indiscriminadamente.

No versículo 16, chegamos onde eu queria: "Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida", Paulo mostra que o perfume que exalamos para todas as pessoas é o mesmo: "o bom perfume de Cristo", porém o efeito que este perfume produz é diferente de pessoa para pessoa. É como se as pessoas que inalam esse perfume tivessem "narizes espirituais diferentes", enquanto umas percebem um cheiro de vida que produz vida dentro dela, outros sentem um cheiro de morte que serve apenas para a sua própria condenação e dentro dela se transforma em mais morte. Ao final do versículo, Paulo faz uma pergunta complementando o assunto: "Para essas coisas, quem é idôneo?" ou, em outras traduções, "Mas, quem está capacitado para tanto?", Paulo aí está perguntando: "Mas quem dentre nós, por si só, é capaz de exalar esse perfume e produzir essas reações nos outros?". A resposta para esta pergunta pode ser encontrada entre os versículos 4 e 6 do terceiro capítulo dessa mesma carta.

E é por Cristo que temos tal confiança em Deus; Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.

2 Coríntios 3:4-6¹

Agora sabemos que somos capacitados por Deus a sermos ministros do novo testamento de Cristo pelo Espírito que nos foi dado e que ao ministrarmos esse evangelho, ele será recebido de forma diferente de acordo com cada pessoa, mas essa recepção referida não é uma recepção momentânea, não é a reação que a pessoa vai ter assim que você falar sobre Cristo pra ela, mas sim a recepção que o seu espírito vai ter ao evangelho, se será produzido vida ou morte dentro dela.

Mudando um pouco as ilustrações, vamos agora para a já conhecida parábola do semeador que é narrada no capítulo 13 do evangelho de Mateus, entre os versículos 3 e 8. Nessa parábola, Jesus conta que o semeador saiu espalhando sementes que caíram em solos que apresentavam características diferentes e por isso tiveram desenvolvimentos distintos, uma foram comidas por pássaros, outras foram sufocadas por espinhos e outras caíram em boa terra, germinaram e produziram frutos. A explicação desta parábola não se faz aqui necessária, visto que isso já é feito pelo próprio Jesus entre os versículos 19 e 23 do mesmo capítulo (recomendo a leitura da explicação de Cristo antes da continuação deste texto).

Assim como aconteceu com a exalação indiscriminada do perfume, acontece também com a semeadura, o Semeador não escolhe em qual terreno a semente, que representa o evangelho, será lançada, ele lança-as em todos os tipos de terrenos sem se preocupar se aquelas sementes irão ou não germinar e frutificar, se isso vai acontecer ou não, vai depender do estado do terreno no qual a semente caiu.

Quanto ao estado do terreno no qual a semente caiu, este vai depender pura e simplesmente de Deus, é algo que pode soar estranho inicialmente, mas todos nós temos consciência disso, se não tivéssemos, nunca oraríamos para que Deus "amolecesse" os corações, nem oraríamos para que o Espírito Santo preparasse os corações para a recepção do evangelho. Para compreendermos melhor, vamos pegar mais uma ilustração feita por Paulo ainda aos irmãos de Corinto, mas agora no terceiro capítulo da sua primeira carta.

Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um. Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho. Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós.

1 Coríntios 3:5-9¹

Continuamos com a ideia de semeadura e semente, mas agora observaremos a ilustração feita por Paulo. Como todos nós sabemos, para que cresçam, as plantas precisam de nutrientes que são obtidos do solo na qual ela foi plantada e de alguns outros fatores como o Sol e a água utilizada para regá-la, mas a maior parte dos nutrientes que ela utiliza no seu crescimento é retirada do solo, por isso algumas plantas só germinam em solos com características específicas.

Nesta ilustração de Paulo que ele relaciona o crescimento do evangelho na vida de uma pessoa, ou de uma comunidade, e uma planta, ele apresenta três sujeitos, o primeiro é o que planta, que nesse caso é ele mesmo, o segundo o que rega, que ele usa como exemplo Apolo, um pregador vindo de Alexandria, e o terceiro sujeito é o que dá o crescimento, que é Deus. Além de reconhecer o valor dos dois primeiros sujeitos e dizer que ambos terão a sua devida recompensa pelo trabalho prestado (v. 8), Paulo deixa muito evidente de que o real responsável pelo crescimento desta planta é Deus.

Como sabemos, Paulo foi o responsável pela evangelização e implantação de igrejas em várias localidades durante o primeiro século (Rm 15:20), por isso ele diz que foi ele quem "plantou" o evangelho ali. Apolo também era pregador e acontecia de visitar as cidades já anteriormente visitadas por Paulo (At 18:24), por isso ele é citado como o que "rega", ele coopera com aquilo que já havia sido outrora plantado por Paulo. E quanto a Deus, Ele dá tudo quanto é necessário para o crescimento da obra.

O que estava acontecendo ali, na verdade, é que alguns irmãos de Corinto estavam se referindo a Paulo e a Apolo como se estes fossem seus mestres (v. 4), mas Paulo repreende-os dizendo que ele e Apolo eram apenas servos usados conforme a vontade de Deus (v. 5). Ou seja, além deles dois terem levado o evangelho até aqueles irmãos, o único responsável pelo desenvolvimento, ou não, da sua fé era Deus.

Agora, depois de termos entendido qual a mensagem de cada um desses trechos, podemos caminhar em direção ao título desse artigo. Pela parábola do semeador e a analogia feita por Paulo em 1 Coríntios 3, vemos que a semente deve ser lançada em todo tipo de terreno e que essa é uma tarefa nossa, "[...] eu plantei, Apolo regou [...]". Também segundo esses textos, vemos que o responsável pelo crescimento é Deus e que o esse crescimento e a produção de frutos por esta semente se dará de acordo com o estado do solo no qual a semente caiu, de acordo com o coração da pessoa que ouviu o evangelho. Se pensarmos um pouco e juntarmos essas duas analogias, veremos que se o crescimento é de acordo com o solo no qual a semente caiu e o responsável pelo crescimento é Deus, logo o responsável pelo estado do solo é Deus. Ligando estas informações ao primeiro texto referido (2 Co 2:15-16), e tendo em mente que estes três textos falam do mesmo assunto apenas com "óticas" diferentes, vemos que o responsável pelo efeito produzido pelo perfume de Cristo que nós exalamos não somos nós, mas Deus.

Com as informações que já obtivemos até aqui, percebemos que da mesma forma como existem pessoas que a palavra é plantada, se desenvolve como "cheiro de vida para vida" e passam a produzir frutos, em outras a semente nem se desenvolve, ou até se desenvolve e morre depois, mas não produz fruto, "como um cheiro de morte para morte". E percebemos também que se Deus é o responsável por dar o crescimento às sementes, e algumas sementes não se desenvolvem, isso se dá porque Deus não deu-as o crescimento, ou seja, Ele é o responsável tanto pelas sementes que se desenvolvem como também pelas que não se desenvolvem.

É muito provável que leitores estejam assustados com a última afirmação que apresentei, mas não há nada demais nisso, é apenas o desenrolar das ideias que desenvolvemos até aqui com base em textos da própria bíblia. Talvez possa ser argumentado de que o crescimento não se deu pelo descaso, descompromisso ou qualquer coisa do tipo dos cooperadores, porém Paulo deixa explícito que o crescimento quem dá é Deus, independendo de qualquer outra pessoa, isso quer dizer que se não houve o crescimento, não houve por Deus não querer.

O que quero dizer com tudo isso é que devemos ter em mente que pessoas pessoas irão sim se recusar a ouvir a palavra de Deus, pessoas irão sim ouvir a gente falar de cristo inúmeras vezes e continuarão na sua vida de pecado, pessoas irão sim para o inferno. Porém isso não quer dizer, de forma nenhuma, que devemos deixar de pregar para estas, visto que quem há de dar o crescimento à semente do evangelho que plantamos ali é Deus, o nosso trabalho é apenas plantar e regar essa semente, se esta semente vai ou não desenvolver já não é mais nossa responsabilidade. E além disso, nós não sabemos a quais sementes Deus está dando o crescimento, pois existem pessoas que a primeira vista se recusam a ouvir a palavra mas depois são levadas por Deus ao Seu caminho, nós não sabemos quem foi escolhido por Deus, por isso devemos pregar indiscriminadamente.

E disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales; porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.

Atos 18:9-10

 

P.S.: Na primeira carta de Paulo a Timóteo tem uma afirmação que pode ser utilizada para contra-argumentar o que aqui foi dito: "Isso é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (1 Tm 2:3-4). O que acontece é que estamos acostumados a ouvirmos apenas sobre a vontade decretiva e soberana de Deus, que é aquela vontade à qual Jó faz referência quando fala que não pode ser frustrada (Jó 42:2), até porque se essa afirmação de Paulo se referisse a um decreto de Deus, que todos os homens fossem salvos, ele estaria defendendo a heresia do universalismo (que fala que absolutamente todas as pessoas serão salvas) e contradizendo todo o resto da bíblia. Portanto devemos ter em mente que esse desejo ao qual Paulo fala é um desejo que existe em Deus porém que sabemos, por toda a bíblia, que não será concretizado. Outra leitura que pode ser feita também é de que o desejo de Deus é que sejam salvos homens de todos os tipos, tribos e nações mundo afora.

Esse assunto sobre a vontade de Deus é um assunto bastante extenso e que sabemos o quão complexo é, por isso em breve estaremos desenvolvendo uma série de artigos aqui falando sobre esse assunto com o intuito de promover a edificação mútua, esperamos que se interessem.

Referências

¹ Destaques adicionados pelo autor deste artigo.

Por Arlan Dantas

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