O Livro de Apocalipse Não É Apenas Sobre o Futuro

Embora ao olho carnal os eventos da história possam muitas vezes parecer dizer o contrário, é Jesus Cristo que governa os reis da terra, e os seus propósitos estão pacientemente sendo trabalhados aqui em baixo.

Este post é uma adaptação do capítulo intitulado "Revelation", de Charles E. Hill, em A Biblical-Theological Introduction to the New Testament: The Gospel Realized, editado por Michael J. Kruger.

 

O Desfecho da Escritura

O "Apocalipse de Jesus Cristo" retrata de forma dramática o paradoxal reino presente de Jesus Cristo como Rei de todos os reis do mundo, o seu triunfo final, e a salvação de seu povo através da tribulação. Mesmo sendo tão monumental, isso não é tudo. No caminho de reviver as visões que João viu na ilha de Patmos, o público de João testemunha não só a salvação do homem, a imagem de Deus, mas também a recuperação dos céus, da terra e das regiões subterrâneas (ou seja, o mar, o abismo, o hades, as fontes de água), a recuperação do domínio do homem como inicialmente dado em Gênesis 1-3. O Apocalipse nos apresenta uma grande serpente, uma mulher que dá à luz a um filho homem que irá reger a terra, e uma restauração definitiva da árvore da vida. O simbolismo do livro percorre toda o Velho Testamento canônico da Escritura e nos leva de volta para o início, para algumas de suas imagens mais elementar.

Assim o Apocalipse apresenta ao povo de Deus o grande desfecho, a conclusão, o nó final do grande drama da salvação que teve início nos três primeiros capítulos da Bíblia. Ele revela como a semente da mulher esmaga a cabeça da serpente e completa a nova criação. Sua ordem canônica como o último livro em nossa Bíblia, então, é inteiramente apropriada. Gênesis e Apocalipse são não só literalmente, mas também tematicamente, os suportes da Bíblia.

O Apocalipse não trata apenas do futuro. Trata também sobre o passado e muito sobre o presente, talvez principalmente sobre o presente. Pois ele foi escrito para ser lido e ouvido na idade atual (Ap. 1:3; 21:7); ele fornece um componente essencial para a igreja da compreensão da vida neste mundo, entre as duas vindas de Cristo.

 

Três Formas de Interpretação

A compreensão do propósito do livro do Apocalipse é inter-relacionada com a avaliação de seu significado geral. Aqueles que acreditam que o livro trata principalmente sobre os últimos sete ou mais anos da história, veem o seu propósito focado nas necessidades e experiências da igreja nesses anos terminais. Neste ponto de vista, Apocalipse serve principalmente para informar aos cristãos do que irá acontecer, uma vez que os eventos futuros que ele retrata começarem a acontecer.

Outros veem a relevância do livro de Apocalipse como praticamente limitada a imediata situação com os romanos no primeiro e segundo século. Estes intérpretes tendem a ver Apocalipse principalmente como um documento político, um protesto inflamado contra o violento imperialismo da Roma do primeiro século, escrito para fortalecer os cristãos daquela época para a possibilidade de uma opressão maior.

Uma variação desta abordagem altamente contextualizada, no entanto, reconhece uma relevância permanente para o protesto. O propósito de Apocalipse, nessa visão, é "contrariar a visão imperial romana do mundo...abrindo o mundo à transcendência divina"[1] e mostrar "o triunfo final de Deus sobre todo o mal e o estabelecimento de seu reino eterno."[2]

Embora esta modificação seja certamente útil, o propósito de Apocalipse deve ser mais amplo e específico. É mais amplo pois os símbolos, embora ocasionados pelo contexto romano do primeiro século, parecem transcender esse contexto e permanecer relevante a manifestações posteriores do dragão e sua campanha contra a igreja. O objetivo é mais específico pois o Apocalipse não está simplesmente interessado em afirmar a transcendência divina de uma maneira geral, nem mesmo em avançar as reivindicações da soberania do Deus de Israel da maneira que vários apocalipses judaicos contemporâneos fazem. Ele está interessado em afirmar o senhorio de Jesus Cristo, o Cristo do Senhor, o Cordeiro de Deus, e a sua vitória final. O longamente aguardado Messias de Deus chegou. Ele morreu e está vivo para sempre, e ele tem as chaves da morte e do Hades (Ap 1:18).

 

Orientado à Vida Presente da Igreja

Por estas razões, parece melhor ver o livro de Apocalipse, não orientado principalmente para o passado (a abordagem preterista) ou para o futuro (a abordagem futurista), embora ele esteja ligado vitalmente com ambos, mas à vida presente da igreja, a todo espaço de tempo entre a primeira e a segunda vinda de Jesus. O discurso inicial do livro, que é mostrar "aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer" (1:1), está se referindo não à iminente chegada do fim do mundo, mas a eventos e forças que irão afetar imediatamente os primeiros leitores e que continuarão a ser relevantes para o povo de Deus até o fim. O propósito do livro não é só nos garantir que Cristo certamente, "vem com as nuvens, e todo olho o verá", mas também para nos assegurar que no meio tempo, Jesus Cristo é o "Soberano dos reis da terra" (1:5) em qualquer tempo ou lugar em que vivemos.

O Apocalipse oferece às igrejas em dificuldades da Ásia Menor e à igreja em todas as eras, a garantia triunfante que, por trás das cenas da história e apesar das vicissitudes da história, o reino de Deus está no poder, e Jesus Cristo, o Rei dos reis, está no trono de seu Pai executando seu julgamento soberano sobre o mundo. Embora ao olho carnal os eventos da história possam muitas vezes parecer dizer o contrário, embora a igreja de Jesus Cristo possa parecer desprezada e derrotada, é Jesus Cristo que governa os reis da terra, e os seus propósitos estão pacientemente sendo trabalhados aqui em baixo.

Notas: 
[1] Richard J. Bauckham, The Theology of the Book of Revelation (Cambridge: Cambridge University Press, 1993), 8. 
[2] Ibid., 9. 

 

Referências

Por: Charles E. Hill. © 2001 – 2017 CROSSWAY

Original: https://www.crossway.org/blog/2016/04/the-book-of-revelation-is-not-just-about-the-future/

Charles E. Hill (PhD, Universidade de Cambridge) serve como John R. Richardson Professor do New Testament and Early Christianity no Reformed Theological Seminary. Ele é um contribuinte do A Biblical-Theological Introduction to the New Testament: The Gospel Realized, editado por Michael J. Kruger.

Texto de Charles E. Hill.
Traduzido por Kellvyn Mendes.

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