Amando ao próximo à distância

Igrejas usam dos meio digitais para manter seus encontros durante a quarentena

O Vírus

Rafael Novaes foi pego de surpresa quando a quarentena foi decretada em São Paulo em março por conta do COVID-19. Dentre tantas privações que a quarentena trouxe, o arquiteto de 24 anos ficou impossibilitado de ir à igreja que frequenta há 20 anos na Barra Funda.

“Ir à igreja é mais do que um evento social ou qualquer coisa do gênero, é parte de quem sou. Nesses 20 anos que frequento a igreja, nunca fiquei mais do que 2 semanas sem ir até o templo. Fiquei muito triste quando descobri que a igreja teria que fechar as portas por hora”, conta Novaes.

Quando o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso do novo corona vírus no final de fevereiro, levaram apenas algumas semanas até que a quarentena fosse decretada por todo o país. Boa parte do comércio e todas as escolas e igrejas fecharam as portas.

O biólogo e podcaster Pedro Angella falou sobre como o fechamento das igrejas durante a pandemia do COVID-19 a importância da medida para conter a proliferação do vírus. “Com o fechamento das igrejas evita-se aglomerações de pessoas e, assim, o contágio do coronavírus por pacientes assintomáticos ou pré-sintomáticos”.

“Dentro da igreja não se fica apenas ouvindo alguém falar, mas também são realizadas leituras, cantorias e momentos de conversa e comunhão; estas atitudes e interação são as principais formas conhecidas de contágio pelo coronavírus: espalhando o vírus no ar, em um ambiente com muitas pessoas, com muita proximidade”, afirma o biólogo Angella.

A Adaptação

 

Com a paralisação dos cultos presenciais, os líderes religiosos passaram a procurar maneiras de se adaptar a situação. Foi então que redes sociais como o Facebook e o Instagram, que permitem a qualquer usuário a realização de transmissões ao vivo, passaram a ser a principal plataforma de uso das igrejas! Além disso, aplicativos de reuniões online como o Zoom e Google Meet, substituíram os momentos de conversa e comunhão entre os membros das igrejas. 

Por mais que certas igrejas possuíam uma estrutura e/ou um grupo de pessoas especializadas em transmissões, várias outras igrejas nunca tinham trabalhado com cultos nesse formato. É o que ressalta o Secretário Executivo da APECOM (Agência Presbiteriana de Evangelização e Comunicação), órgão responsável pela comunicação da Igreja Presbiteriana do Brasil, Pastor Rodrigo Leitão.

“Enquanto algumas igrejas possuem uma grande estrutura com câmeras, computadores e profissionais capacitados e especializados nessa área da comunicação, outras igrejas possuíam apenas uma câmera de celular! É claro que isso não foi um impeditivo para a realização dos cultos, mas revela uma limitação no processo de adaptação a realidade que estamos vivendo”, enfatiza Leitão.

Algumas igrejas inovaram e investiram em tendências do passado pra realizar os cultos. É o caso de uma igreja evangélica de Itú que usou do estacionamento municipal para realizar um culto drive-in. 

“O que todos queríamos é estar reunidos, nos abraçar, mas já que isso não é possível, temos usado das mídias sociais como forma de estarmos juntos e por mais que não seja a mesma coisa, é muito estar compartilhando da fé com nossos irmãos através dessas ferramentas”, é o que diz o Pastor da Igreja Verbo da Vida de Campo Grande, Lucca Duarte.

A Retomada

Após o decreto municipal 59.349 do artigo 55 da cidade de São Paulo, as atividades religiosas foram liberadas com restrições e recomendações do Ministério da Saúde. As igrejas se dividiram entre aquelas que acreditam ser possível a reabertura com todos os cuidados e aquelas que acreditam que esse não é o momento ideal para a reabertura, mesmo adotando as medidas.

Pedro Angella falou sobre a eficácia das medidas tomadas e da reabertura dos templos. “Tendo como base a definição de eficácia como “fazer a coisa certa”, não são eficazes. O que é eficaz é o distanciamento físico entre as pessoas, para que não se contaminem. Mas podem ter certa eficiência, desde que a igreja esteja preparada para seguir à risca as recomendações, seja assertiva na manutenção das condições sanitárias dos frequentadores, e esteja consciente de que passa a ser de sua responsabilidade o possível contágio nas dependências da igreja”.

Para o servidor público de 26 anos, Marcos Tavares, esse não é o momento para que os cultos presenciais retornem. Ele é membro da mesma igreja em Vitória há 15 anos. “Como cristão, o momento ideal para voltar seria quando todos pudessem se reunir sem restrições. Ninguém está feliz com a situação. É uma dor pela qual todos estão passando. A saudade aperta, mas não podemos deixar que o sentimento seja maior que a razão, principalmente em um momento tão delicado quanto esse. Creio que deixar os idosos e crianças, gestantes, portadores de outras doenças ou comorbidades de fora da comunhão da igreja não seja um ato de amor, mas uma intenção egoísta de retornar aos velhos hábitos”, ressalta Tavares.

Já para Arthur Gomes, agrônomo que mora no interior de Minas Gerais, a volta dos cultos presenciais vieram em um bom momento. “É difícil demais não poder estar aqui. Eu entendo o quanto esse vírus é perigoso, mas todas as medidas propostas pelo Ministério da Saúde têm sido adotadas e a gente se esforça muito para que elas sejam seguidas à risca”, conta Gomes.

“O melhor momento para a volta dos cultos presenciais seria quando tivéssemos um controle muitíssimo maior sobre o contágio do que o que temos hoje, ou quando tivéssemos vacinas disponíveis para todos os membros”, conclui o biólogo Pedro Angella sobre o assunto.

Aos poucos os governos municipais e federais estão reabrindo não apenas as igrejas, como também o comércio, escolas e as cidades. As rotinas aos poucos tem voltado a algo próximo da realidade. Entretanto, o Brasil alcançou no dia 20 de junho o número de 50 mil mortes pelo novo coronavírus e um dia antes ultrapassou o número de 1 milhão de casos. Diferente de outros países que optaram por endurecer as medidas de distanciamento social, o Brasil tem optado por voltar ao normal.

Por Tito Campos

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